A história do GUI...

Tenho que vos escrever, ou descrever o que nunca quis, nunca quero, e nunca posso vir sequer a permitir que faça parte dos meus pensamentos, porque, quando assim for… perdi parte de mim, a parte que me faz acreditar no amanhã, no perdoar, no aceitar, no melhorar… a ESPERANÇA… essa menina, tão cheia de luz, que sorri tantas vezes para mim, e me inspira, e me torna melhor, maior, mais forte…

Mais forte?! … não é o que me sinto hoje… embora, tenha feito o que me ensinaram, (…)  não se chora nem se discute em publico (…), os sentimentos, as emoções, que vivem tão à superfície da pele, são para serem controlados… será? talvez…

Mas hoje, foi particularmente difícil, como já foi outras vezes, quando o inevitável me olha nos olhos, e termina com qualquer resto  de magia e esperança… e constato a crua das realidades… e hoje, tive que a enfrentar de frente, em pé, por ti, por mim, por nós… porque no fim… o fim, é tão abruptamente terminal, inalterável…

Não tenho outra maneira de dizer, o Gui, não teve como continuar mais esta luta, e hoje terminou aqui a sua jornada, entre mãos que o amam, entre beijos e carinhos…. onde ele já se sentia em casa, sem nunca, nunca ter conhecido o quentinho de um sofá de casa, nem nunca ter tido a oportunidade de viver o que todos devem viver, sejam humanos ou animais, a paz de um sitio  a que se chama "casa", de uma família, onde o amor, seja a palavra, seja a filosofia,  e o que une todos os pedacinhos que na vida nos parecem tão dispares, complicados, dispersos…

O porquê? porque o corpo dele, chegou ao limite, e já não tínhamos como o manter senão de forma assistida… sem sequer ter o conforto da ausência do mau estar ou dor… chegou onde já não podia chegar… e quando assim é, há que ter a decisão, entre deixar sofrer ou acabar aqui… optamos por acabar aqui… porque sofrer… já o Gui sofreu demais na sua tão jovem vida…. 

Estas duas semanas foram particularmente duras, mas ao ver o Gui partir, reduziu tudo a nada, e provocou em mim, uma espécie de ausência de consciência, uma espécie de balanço… para quê? o porque de tudo isto? isto, são estas coisas da vida, estas coisas dos humanos, onde investem tanto de si no mal, no destruir, no apontar o dedo, no cobrar… e no viver? e no amar… e no fazer por si próprios? Começar ai, por nós, por o que nos vai cá dentro, e pelo que fazemos cá fora… e não pelo que dizemos…. 

A ti Gui,  que não sabes ler, que não vês televisão, e que não falas a nossa língua, consegui te dizer o que nunca vou conseguir dizer aqui, o que não sei escrever, pintar ou verbalizar… os humanos anseiam ser imortais, os animais ser livres e amados… tu Gui, vais ter um bocadinho de ambas as coisas, és imortal, porque o teu exemplo mostra a Portugal o que se passa em milhares de outros quintais onde estão animais esquecidos como tu estavas, e foste livre de dor por algum tempo, e amado  por nós, e por toda a gente que se cruzou contigo, e que te conheceu, mesmo através de um televisor… 

 

Adeus Gui, ou até um dia para quem tem este consolo de pensar que um dia… um dia, nos reencontramos todos com quem amamos… se assim for, vamos nos voltar a ver..

 

SDC

23 de janeiro de 2013

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